Chapada Diamantina: Rio Utinga pede Socorro!
22 de março de 2017Consumo intensivo de água para produção de Banana seca o Rio Utinga
Por Romilson Joaquim
Principal responsável por abastecer comunidades de cinco municípios da Chapada Diamantina (Utinga, Wagner, Lagedinho, Andaraí e Lençóis), o Rio Utinga encontra-se em situação degradante.
Em 16 de março de 2017, Já havia mais de oitenta dias que a água não chegava à comunidade São José – localizado as margens da BR242. E a situação se agrava a cada momento. No Assentamento São Sebastião de Utinga (Wagner-BA) tem dias na semana que não corre água no rio. É triste, pois segundo os Assentados que vive no local há mais de 21 anos, isso nunca havia acontecido.
As principais causas apontadas pelos agricultores locais são: a situação climática, a falta de manutenção e de recuperação das matas ciliares, e principalmente o uso extensivo de irrigações por grandes produtores para o cultivo de Banana sem que haja um estudo socioeconômico e ambiental.
Segundo os produtores, nos últimos 10 anos houve um aumento do plantio irrigado de culturas que absorvem um grande volume de água, saindo de aproximadamente 200 ha para mais de 1000 ha. Isso é equivalente a mais de 1,6 milhão de plantas, que para manter sua produtividade, necessita de 40 litros de água por dia para cada planta.
Acredita-se que isso, é a principal causa da falta de água no rio Utinga, pois no Povoado Cabeceira do Rio – município de Utinga-BA (Local onde nasce o Rio), não houve redução do volume de água.
Reivindicações realizadas em 2016
Desde 2015, quando o Rio Utinga secou pela primeira vez, a população das comunidades localizadas à sua margem, realizaram diversas ações tentando chamar a atenção do estado. Em 2016, os Pequenos Agricultores Assentados, Acampados, Quilombolas e Indígenas, todos ribeirinhos situados à margem da Bacia e Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Utinga, fecharam a BR242, em protesto contra a seca do Rio Utinga.
Os agricultores entregaram uma pauta ao Governador Rui Costa, solicitando uma audiência para tratarem de questões relacionadas à falta d’água no rio.
Os ribeirinhos solicitaram ao governo do estado a revitalização da Bacia e Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Utinga; Construção de cinquenta barragens (pequena, média e de grande porte, imediato); Recuperação da nascente e da mata ciliar do Rio Utinga e seus afluentes – urgente; Doação de duzentas mil mudas de espécies nativas da região (imediato); Implantação de dez viveiros de mudas com espécies nativas da região (imediato) com capacidade para 50 mil mudas cada; Realização de um diagnostico socioeconômico e ambiental do Rio Utinga e seus afluentes; Implantação de uma estação meteorológica completa; E Assistência Técnica para o uso correto e eficiente da água para pequenos e médios irrigantes do Rio Utinga.
Assentamento São Sebastião de Utinga recupera Mata Ciliar
Os agricultores do Assentamento São Sebastião de Utinga, município de Wagner/BA, foram os primeiros a se organizarem para recuperar a mata ciliar.
Em parceria com o CETEP de Wagner, SEMA e CI, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizou um mutirão no Assentamento, e plantou 2500 mudas de arvores nativas.
As mudas plantadas ainda não foram suficientes para recuperar toda a mata ciliar do Assentamento, mas os agricultores estão sempre buscando alternativas para preservarem a margem do rio.
Em maio de 2016, os agricultores do Assentamento São Sebastião, realizaram um “Curso de Coleta de Sementes e Produção de Mudas Nativas”, visando à instalação de um viveiro na comunidade, e em janeiro de 2017 foi realizado o Curso de Agroecologia e Meio Ambiente.
Além dos cursos desenvolvidos e do plantio de arvores nativas os agricultores também realizaram um mutirão em que arrancaram plantas exóticas invasoras como taboa, e lixo como plásticos e pneus de dentro do rio.
O Rio Continua Seco em sua maior extensão
Agricultores dos cincos municípios banhados pelo Rio Utinga, tem realizado mutirões para limpeza do rio. Nos últimos mutirões realizados, foram retirados lixos e pragas como taboa, e tapado alguns possíveis desvios existentes. Mas, apesar das ações desenvolvidas, o rio continua seco em sua maior extensão.
Os grandes produtores de culturas como banana, que mais consomem água do rio, tem desenvolvido um calendário semanal, com os dias que deve e que não deve haver irrigação. Mas, essa não tem sido a alternativa adequada para o problema, pois mesmo nos dias em que desligam suas bombas, a água não chega nem próximo à sua foz.
Nos últimos dias houve uma pequena chuva na região. Devido a chuva molharem as plantações, os agricultores desligam as bombas. Acredita-se que isso favoreceu o aumento do volume de água no rio, mas se nos próximos dias não houver chuva novamente, o rio volta a secar.
Diante desta situação, os ribeirinhos estão revoltados, pois acreditam que a causa da falta d’água no Rio Utinga, não é apenas a estiagem, e sim, também, a irresponsabilidade de grandes produtores que consomem água em excesso, com o cultivo extensivo de culturas como banana mesmo sabendo que o rio não suporta suas bombas.
Os ribeirinhos também tem questionado o descaso das autoridades competentes, pois acreditam que eles deveriam tomar as devidas providências para solucionar a questão.
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