Chapada: Urgente, agricultores familiares reúnem com representante da Sema para discutir a situação do Rio Utinga
24 de outubro de 2019Representantes de Movimentos Sociais e de Comunidades Rurais afetadas pela falta d’agua reuniram nesta terça-feira (23/10), com uma representante da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), para discutir a situação do Rio Utinga e cobrar ações do Estado referente ao uso indiscriminado da água que tem provocado a seca em boa parte do rio.
A reunião ocorreu no Assentamento São Sebastião de Utinga, em Wagner/BA, com a técnica da Sema, Larissa, e estiveram presentes representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilmbolas (CETA), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Sec. de Agricultura de Wagner, e representantes de Comunidades Ribeirinhas dos municípios de Wagner, Lençóis e Andaraí.
O Rio Utinga está há mais de oito dias seco, em uma extensão que vai do Assentamento São Sebastião de Utinga no município de Wagner/BA até a sua foz, devido às irrigações excessivas para a monocultura da banana. Isso mostra, segundo os agricultores, que o estado tem sido omisso pois conforme garante o inciso III do artigo 1º da Lei nº 9.433/97, da Política Nacional de Recursos Hídricos “em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais”.
Os agricultores estão furiosos e cobram do estado o cumprimento das leis ambientais. Dentre as ações discutidas na reunião, os agricultores solicitaram à Sema que exija, com urgência, a suspenção das irrigações do rio Utinga e seus afluentes até que ele perenize e chegue água a sua foz. A partir daí, poderá ser tomada outras alternativas como, estabelecer um calendário com dias definidos para que cada comunidade possa irrigar, assim como já havia sido feito em anos anteriores.
Larissa – técnica da Sema, anotou as reivindicações e se comprometeu a entrega-las ao Secretário de Meio Ambiente do Estado para que tome as devidas providencias.
Entenda a situação do Rio Utinga
Na Chapada Diamantina, os rios encontram-se ameaçados pelo atual modelo de produção. A região é composta por diversos rios que juntos compõem a bacia hidrográfica do Rio Paraguaçu, uma das mais importantes bacias do estado, sendo essencial para o abastecimento de diversas regiões, principalmente à região metropolitana de Salvador. Segundo o site da ONG Conservação Internacional – CI, “mais de três milhões de pessoas dependem das águas deste rio, cuja bacia se estende por mais de 55 mil km², abrangendo 86 municípios e 10% do território do estado”.
Entre os afluentes que compõem a bacia do Paraguaçu, está o Rio Utinga, que entre os anos de 2015 a 2019, têm sofrido a pior crise hídrica da história. O Rio banha cinco municípios do estado da Bahia, nasce próximo ao povoado de Cabeceira do Rio – município de Utinga, e em seu percurso passa por territórios dos municípios de Wagner, Lajedinho, Andaraí, Lençóis, e deságua no Rio Santo Antônio, na Área de Proteção Ambiental Marimbús. O Rio Santo Antônio deságua no Paraguaçu.
A bacia hidrográfica formada pelo Rio Utinga abrange uma área de aproximadamente 3000 km², e tem como principais afluentes os rios Mucambo, Bonito e o Rio Cachoeirinha – primeiro a sofrer com o colapso hídrico devido às Barragens irregulares na Fazenda SARPA que tem matado o rio, deixado o povoado de Cachoeirinha, em Wagner/BA, e várias comunidades sem água, segundo informa os moradores.
No percurso do rio Utinga, existem cidades, comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, assentamentos de reforma agrária, pequenos, médios e grandes agricultores, que dependem da água para o consumo humano, dessedentação de animais e para irrigação.
Entre a nascente do rio Utinga até a sede do município de Wagner, está localizada o maior número de irrigações, principalmente para o cultivo da banana, de pequenos, médios e dos grandes produtores. De Wagner até a foz do rio, é composto por assentamentos, comunidades tradicionais e pequenos agricultores, que cultivam a terra para garantirem o sustento da família.
Nos últimos doze anos, segundo os agricultores, houve um aumento do plantio irrigado de culturas que absorvem um grande volume de água. Com o aumento das irrigações, houve o colapso hídrico e o Rio Utinga, secou pela primeira vez, no ano de 2015. Em 2016 o rio voltou a secar e em 2017, a situação se agravou, comunidades chegaram a ficar mais de 120 dias sem água.
As principais causas apontadas pelos agricultores locais são: a situação climática, a falta de manutenção e de recuperação das matas ciliares, e principalmente o uso excessivo de irrigações por grandes e médios produtores para o cultivo de Banana sem que haja um estudo socioeconômico e ambiental.
A população das comunidades localizadas à margem do Rio Utinga, já concretizaram várias ações tentando chamar a atenção do estado. Já bloquearam a BR 242, na altura do km-308, varias vezes, sendo que em uma delas houve confronto com a polícia. Realizaram reuniões, entregaram pautas ao governo, mas pouco tem sido concretizado pelo estado. O que tem ocorrido é o conflito entre os agricultores.
Em outubro de 2017 o rio secou novamente, os agricultores pressionaram os órgãos competentes, e o Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – INEMA decretou a suspensão de 50% do volume outorgados para o Rio Utinga e seus afluentes, com exceção do consumo humano e da dessedentação de animais. A intervenção, feita por meio da Portaria 15.068, aconteceu durante uma semana e atingiu também os produtores com bombas não licenciadas, acima de 5 CV (cavalos de potência). Mas os grandes e médios produtores se reuniram juntos a representantes do governo e questionaram a ação. Diante disso, as irrigações voltaram a serem liberadas, aumentando a frustração dos pequenos agricultores que ficaram sem água.
A situação é trágica, neste último mês (outubro/2019) o rio voltou a secar. Até a sede do município de Wagner já enfrenta problemas referentes à seca. No momento da elaboração desta matéria já faz mais de oito dias que o rio se encontra seco entre o Assentamento são Sebastião no município de Wagner, passando por comunidades rurais dos municípios de Lajedinho, Lençóis, Andaraí, até à sua foz, onde o rio deságua.
Os agricultores esperam que o estado não seja omisso, mas que cumpra com as reivindicações apresentadas.
Por Romilson Joaquim
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